sábado, 23 de julho de 2011

Conversa entre opostos part 2 - Esperar




- Você anda estranho.
- Que nada.. Eu estou bem.
- O que aconteceu?
- Nada. Ja disse estar bem.
- Não minta pra mim. O que houve?
- Uns problemas.
- Quais problemas?
- Problemas.. Ja ouviu falar? Alguns problemas, nada que não se resolva com o tempo.
- O tempo..
- O que tem o tempo?
- O tempo é um dos seus problemas.
- E como você.. ? 
- O tempo é um dos problemas de todos.
- Nem todos.
- Sim, todos. Esperar pra realizar um sonho é sempre doloroso.
- É.. Esperar é mais difícil do que parece.
- Mas você tem opção.
- Não, eu não tenho opção.
- Todos tem opções.
- Certo, qual?
- Está vendo a chuva?
- O que a chuva tem a ver com tudo isso?
- Está vendo ou não?
- Sim.
- Está forte.. Fraca, moderada, como ela está?
- Como assim? Você não está vendo também?
- Sim, estou. Mas eu quero que me diga.
- Está forte.
- E o céu?
- Algumas nuvens..
- Algumas.. ?
- É.. Tem bastante. Pelo visto vamos ficar debaixo da marquise ainda por um bom tempo.
- Vamos não, você vai.
- Que seja..
- Você tem opção.
- Lá vem você de novo com essa história..
- Tem opção.
- Tenho opção de ficar calado, já tem gente me olhando por falar sózinho.
- Pra eles você sempre esteve sózinho.
- Ok.. Diz logo onde quer chegar.
- Quero que veja. A chuva.. Não vai cessar. Esperar pelo sol parece estar difícil, ver a chuva está fazendo você pensar..
- E conversar comigo mesmo.
- Pensar ja é o começo.
- Começo pro fim?
- Pro fim das dúvidas. A chuva e o sol, o céu azul e o céu com nuvens cinzentas, a noite e o dia, ambos são rivais que nunca brigam, pelo contrário, se respeitam e..
- E daí?
- Você espera pelo sol, debaixo da marquise. Uma marquise que te protege da chuva, pelo simples fato de você jamais encara-la, sempre respeita-la, vive a esperar. Aliás, é o que você mais faz.
- Tudo tem seu tempo.
- Há quanto tempo chove em seu mundo? Não vê que és um dos poucos que está na marquise há meses?
- Tenho culpa da chuva não cessar?
- Tem culpa dos braços cruzar, e esperar como se num estalar de dedos tudo vá se resolver.
- Vai passar..
- ( risos ) Essas palavras viraram uma espécie de nome pra você né? Eu nunca vi você falar tanto isso.
- Estou bem..
- Minta.
- É uma batalha..
- Que te mata todo dia.
- É uma guerra..
- Você não preza pela paz?
- É uma luta..
- Você ja está nocauteado.
- Minhas lágrimas..
- Que temem a cair.
- Eu quero..
- Não pense em fugir.
- ( sorrindo ) Melhor fingir que está tudo bem.
- Você não sabe.
- O que eu sei?
- Esperar demais.
- Minhas mãos..
- Sim. Suas mãos calejadas foram usadas pra puxar pessoas que estavam onde você está.
- Onde estou?
- Perdido.
- Acharei o caminho da volta?
- Você gosta de esperar por ajuda daqueles que um dia você ajudou.
- Estou só.
- As lágrimas te acompanham. Ultimamente elas tem sido uma boa companhia, não?
- Meus olhos falam por mim.
- Falam, dizem, sussurram, gritam.. Palavras que sua boca não pode dizer.
- Quero ir embora. Não aguento mais.
- Você sempre gostou de esperar.
- Quando isso vai acabar ?
- Quando você se levantar e começar a andar debaixo da chuva, sem teme-la.
- E continuará a chover?
- Bastarão alguns de seus passos pra ela cessar.
- Tenho opção?
- Tem.
- Qual?
- Esperar.

''Nossa Senhora das coisas impossiveis que procuramos em vão...
Vem... soleníssima, soleníssima e cheia de uma vontade oculta de soluçar
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega
E só vemos até onde chega o nosso olhar.''

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